domingo, 18 de setembro de 2011

VISITA GUIADA

Uma vez mais tivemos o prazer de ser " guiados " pelo nosso amigo António Marques da Silva.
O ponto de encontro foi a Praça da República ( Jardim de Teófilo Braga ), junto à estátua de Baco ( 1916 - António Teixeira Lopes ) que, sinal dos tempos, segurava em suas mãos divinas uma garrafa de cerveja e não um cálice de bom vinho do Porto.



O antigo Campo de Santo Ovídio, onde também se podem encontrar os conjuntos escultóricos do " Rapto de Ganimedes " ( 1910 - Fernandes Sá ), " Padre Américo " ( 1959 - Henrique Moreira ) e " República " ( 2010- Bruno Marques ) deve a sua configuração actual a João de Almada e Melo que, tendo fundado a Junta de Obras Públicas do Porto, é o responsável pelo plano urbanístico actual, com uma grande via ligando a Praça da Ribeira - Rua de São João - Largo de São Domingos - Rua das Flores - Rua Nova das Hortas e Rua do Almada ao Campo de Santo Ovídio ( onde também conflui a Rua dos Mártires da Liberdade, antiga Estrada de Santo Ovídio ) que, sendo uma grande praça para logradouro público, era também ponto de saída para outros destinos, nomeadamente a Estrada de Braga.
Como curiosidade refira-se que após a insurrecção militar de 1851, que levou à queda de Costa Cabral, se passou a chamar " Campo da Regeneração ", e que em 1910 se passou a designar por " Praça da República ", pela importância que tivera na revolta da 31 de Janeiro de 1891, na qual estiveram envolvidos vários nomes que hoje fazem parte da toponímia portuense - Rodrigues de Freitas, António Leitão, João Chagas, Basílio Teles, Alves da Veiga, Sampaio Bruno, Alferes Malheiro,...




Daqui rumámos à Igreja da Lapa, visitada por alguns de nós pela primeira vez.
O culto a Nossa Senhora da Lapa foi instituído em Portugal pelo cónego brasileiro Ângelo de Siqueira. Tendo chegado ao Porto em 1754, quando a cidade estava há dias a ser fustigada por uma violenta tempestade, o pregador, que se fazia acompanhar de uma pequena imagem de Nossa Senhora da Lapa, conseguiu com os seus sermões fazer com que a tempestade amainasse.
O " milagre " e os dotes oratórios do padre Ângelo de Siqueira fizeram com que chovessem as esmolas e donativos para a construção de um templo, que foi erigido em tempo recorde.
A Igreja da Lapa foi equipada em 1955 com o maior orgão de tubos da Península Ibérica, com 4.307 tubos, obra do mestre organeiro alemão Georg Jann.
Na ala esquerda do altar-mor encontra-se o coração de D. Pedro IV de Portugal, 1º imperador do Brasil, entregue ao Porto pela viúva D. Amélia por vontade expressa do rei, como prova de afeição e reconhecimento pela incrível ajuda dos portuenses.
Na inscrição em português pode ler-se: - "...Eu me felicito a mim mesmo por me ver no teatro da minha glória, no meio dos meus amigos Portuenses, daqueles a quem devo, pelos auxílios que me prestaram durante o memorável sítio, o nome que adquiri, e que honrado deixarei em memória aos meus filhos."
O coração está conservado em fermol, que ciclicamente é renovado, e guardado num vaso de prata cuja chave está em poder do presidente da Câmara Municipal do Porto.




Saídos da igreja, subimos alguns alguns degraus para entramos no Cemitério da Lapa, o primeiro cemitério privado do Porto, e que ainda hoje é um cemitério particular.
Em 1833, na sequência da insalubridade provocada pelo cerco do Porto, e por alegada falta de espaço na igreja, a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa pediu autorização a D. Pedro IV para a construção de um cemitério murado e com locais de implantação de monumentos " ao moderno ", como em Paris.
Autorizada a construção, foi durante anos o cemitério da élite portuense e o mais faustoso da cidade.
Camilo Castelo Branco ( que estudou no Colégio da Lapa, anexo à igreja, tendo como professor Ramalho Ortigão ), que se suicidou aos 65 anos, manifestou a expressa vontade de ser sepultado neste cemitério, no jazigo de família do seu amigo João António Freitas, onde ainda hoje se encontra a sua singela sepultura.




Subimos a rua do Monte da Lapa para vermos um moinho cujas origens se perdem nos tempos.
Transformado em habitação particular, infelizmente não nos foi possível visitá-lo, pois a proprietária não permite o acesso,




Dirigimo-nos seguidamente à capela do Senhor do Socorro, situada na esquina da rua de Antero de Quental com a rua do Monte da Lapa.
No seu interior encontra-se um pitoresco cruzeiro do ano de 1622, muito bonito, e que deve ter sido um padrão que assinalava aos peregrinos o Caminho de Santiago.
Esta capela é também conhecida pela denominação de Capela do Olho Vivo. De entre as várias explicações para a sua origem aceitamos a que nos diz que este lugar, situado na antiga Estrada de Braga, era muito frequentado por ladrões que assaltavam os viajantes desprevenidos. Daí estes serem avisados que ao passar junto à capela deviam " ir de olho vivo ".




Ao fim do dia reunimo-nos na sede do Clube para, em dia de escolha das 7 Maravilhas da Gastronomia, comermos umas tripas à moda do Porto.
Oportunidade para recebermos o CL Gilberto Alves ( aqui no uso da palavra ) e a sua domadora Elzinha que, acompanhados por duas filhas e um genro, nos brindaram com a sua presença.




Um dia bem passado, tripas aprovadas por um confrade da Confraria das Tripas, e acima de tudo uma brilhante lição acerca do Porto proporcionada pelo Sr. António Marques da Silva, a quem muito agradecemos pela sua partilha de conhecimentos, pela sua disponibilidade e pela sua amizade.

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