quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

FOLHAS DE OUTONO

O mais estranho não era aquele burburinho, cortado às vezes por um silêncio de catarse, nem o tic-tac dos andarilhos a deslizarem pelo chão de tijoleira acastanhada no corredor do pavilhão do desespero. Não era também a imobilidade anciã e enrugada de quantas, sentadas nas cadeiras, olhavam através da vidraça para o verde escuro do amplo jardim. Havia um lago ao centro, onde uma pachorrenta tartaruga era a única vida presente. De quando em vez a tartaruga fazia as delícias da pequenada que brincava, envolvida na sua inocente traquinice, enquanto os pais faziam a visita aos seus avós.

Naquele sítio as novidades vinham de fora, trazidas pelas visitas. O cenário ali era sempre o mesmo: paredes de pé alto, cor de mel, mil vezes olhadas, como se reflectissem a imagem do passado daquelas mulheres, sentadas em carreirinha no corredor, a olharem pela vidraça para o verde escuro do amplo jardim, como se estivessem vivas pelo simples facto de transportarem as suas almas vivas nos seus corpos mortais.

Em cada quarto quatro camas de ferro, apenas quatro, estreitas e alinhadas, e impecavelmente arrumadas.
O pesoal auxiliar era diligente e cauteloso.

Ela, sempre sentada na mesma cadeira, a olhar através da vidraça lá para fora, para o jardim, imaginava-se às vezes uma princesa enclausurada no seu palácio de mármore, pensando que a tartaruga era um pajem enfeitiçado.

Às vezes os seus pensamentos atingiam alardes de realidade, e então perguntava-se_
"-Porquê tantos cuidados?..."

Ela pensava e consumia rios de imaginação naquele espaço geriátrico, porque pensava que, pensando e imaginando coisas, talvez fosse a única maneira compensadora de ver o tempo a passar à medida que, inexoravelmente, envelhecia.

Nunca gostava de conversar, e muito menos de se meter na conversa dos outros.

O silêncio para ela era muito mais do que a ausência de sons.

" Quem vai,vai; quem está, está!"
Esta era a sua filosofia devida. Entre outras.

Mas na hora das visitas, sentada naquela cadeira a olhar para o jardim, ficava sempre condenada a escutar a conversa dos outros, gente tagarela que trazia as novidades lá de fora, que palrava as suas vidas secas, cheias de angústias vazias, como quem rezava um rosário de medos.

De vez em quando lá tinha uma visita.

Quando se encontrava sozinha costumava inventar combates imaginários, de pré-purgatórios, de recobros espirituais, de lutas onde a vã glória enfeitasse o seu velho corpo, enrugado e doente, e lhe transmitisse a esperança de continuar a ocupar o seu espaço neste mundo, cada vez mais superpovoado de FOLHAS DE OUTONO.

Enquanto as visitas falavam umas com as outras disto e daquilo, ela punha-se a pensar no tempo em que era uma mulher esbelta e esmerada e tinha gosto na sua casinha, que a trazia sempre tão limpa, tão limpa que se podia comer no chão!
E aquelas panelas de alumínio, tão reluzentes? - Que lindeza!...
Tudo era um brinquinho!...
Agora já nada fazia sentido.

Quando tinha de ir aos médicos, estes pareciam-lhe demónios brancos, sempre a dizer-lhe para se mexer, a dizer-lhe para andar, nem que fosse agarrada ao andarilho ou à bengala, ou ao corrimão da parede, e que não ficasse para ali parada a ver a banda a passar, sempre sentada na cadeira, no mesmo sítio.

- Quem pensavam eles que ela era?...

- Alguma senil?...

Não!

Faria tudo quanto lhe desse na real gana, e ficar ali sentada era o que mais lhe apetecia...

Talvez esta sua postura quisesse demonstrar a todos, até ao senhor de estetoscópio ao pescoço, que quem decidia o que devia ou não fazer era ela.

Era dona e senhora da sua vontade. E esta liberdade era muito sua!

Por isso o jardim verde escuro, com aquele lago ao centro e as crianças a brincarem com a tartaruga nas horas da visita, era o seu refúgio, o seu confidente. Silencioso.

"- Porque não vai dar uma voltinha?" - dizia-lhe alguma visita quando a ia visitar e a encontrava invariavelmente no mesmo lugar.
"- Está sempre aqui sozinha. Vá pelo menos até lá baixo, à capela, e reze um bocadinho!"
- Ela sorria, naquele sorriso de santa, vestido de ironia e de uma compreensão infinda. Sorria porque - como se isolava sempre - talvez por isso a achassem louca; sorria porque ficava contente quando alguém se lembrava dela e a visitava, e porque sabia que, no julgamento que as pessoas faziam dela, manifestavam uma profunda ignorância!...
Não percebiam nada; nada de nada, e nem sequer suspeitavam, coitadas, que também elas eram vítimas de uma marcante solidão, vivendo na cidade amarfanhada por gente a acotovelar-se a rodos, mas cada vez mais sozinha, onde a vida de agruras levava cada um a situações competitivas, às vezes aleivosas, sem espaço sequer para o reencontro reflectivo e para a altruísta dádiva do amor!

Se não fosse assim talvez ela não tivesse necessidade de estar ali...

Mas a vida agora era assim, dizia de si para consigo, como quem encontrava um bálsamo para lhe massajar a angústia!

A saudade, a saudade dos tempos passados, alimentava-lhe o corpo e seduzia-lhe a alma! As recordações do seu tempo de juventude estavam presentes. Pareciam actuais.

Eram palavras lavradas na sua mente! Tinha sempre tanto que recordar!... Não queria perder pitada!...
O tempo urgia!...

Estava cansada naquela tarde.

Não lhe apeteceu continuar a ouvir as conversas daquelas visitas que nunca se calavam, e falavam, e falavam, contando o tudo e o nada às outras utentes que se gabavam das visitas que tinham.

Naquele dia nenhuma visita tinha aparecido.

Ela sentia-se mais sozinha que nunca.

Apeteceu-lhe levantar-se, e devagarinho dirigiu-se para o quarto.

As quatro camas de ferro, apenas quatro, estreitas e alinhadas, lá estavam.

Na mesinha da sua cabeceira, uma fotografia de quando era nova.

Com as mãos trémulas, pegou nela e acariciou-a.

Não havia dúvidas que continuava a gostar de si.

Depois, deitou-se.

Não sei se rezou ou não!

Fechou os olhos!

Agarrada à vida, ainda se mantém esta FOLHA DE OUTONO!

Fernando Cartola

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Um Clube em MOVIMENTO

Aconteceu!
Até parece que a comunidade do concelho de Matosinhos em geral, e da cidade da Senhora da Hora em particular, estava à espera desta iniciativa lionística para corresponder em força e com entusiasmo, como se viu, às duas iniciativas que o Lions Clube da Senhora da Hora levou a efeito no passado fim-de-semana:

A inauguração da sua Venda de Natal e a realização de um “Espectáculo de Solidariedade” denominado “Noite Cultural”.



Quanto à VENDA de NATAL – inaugurada pelo presidente da Junta de Freguesia da cidade da Senhora da Hora na passada sexta-feira, dia 27, no Salão Nobre daquela autarquia –, a mesma está a ser visitada por uma gama de pessoas que aliam a sua necessidade de fazerem as compras de Natal a preços muito convidativos ( adquirindo artigos de requinte e bom gosto ) à vontade de Ajudar uma colectividade como o Lions da Senhora da Hora, que promove este tipo de iniciativas tendo em vista a angariação de fundos para a distribuição de Cabazes de Natal a famílias carenciadas.

Todos os membros activos do Clube participam nesta iniciativa, com particular destaque para as Companheiras, as quais, lideradas pela responsável do pelouro, a CL Alina Bizarro, estão a emprestar ao evento o toque de beleza e distinção que só as mulheres são capazes de produzir.


O certame funcionará até ao próximo dia 13 de Dezembro, com o seguinte horário:
Sextas, Sábados, Domingos e Feriados, das 15H00 às 19h30.
Vale a pena a visita!...


ESPECTÁCULO DE SOLIDARIEDADE- NOITE CULTURAL




Chovia!
O vento, gélido, anunciava uma noite invernosa, mais convidativa ao enrolado aconchego de uma manta caseira, para assistir através da TV ao tal “clássico” todos os anos repetido, do que sair de casa debaixo daquele temporal para assistir a um espectáculo que, face ao tempo, estaria condenado a desenrolar-se perante uma sala vazia, onde as notas musicais vagueassem pela frieza das cadeiras perante o desalento de alguns…

Qual o quê?

Então e a nobreza altruísta desta gente, que tem das Acções Solidárias um verdadeiro sentido humanista!...

Foi o que se viu!...

)



Nenhum temporal foi capaz de arrefecer o entusiasmo salutar de tanta Gente de Boa-Vontade que resolveu associar-se ao Lions Clube da Senhora da Hora, participando e enchendo, com a sua presença, a cripta da Igreja da Nossa Senhora da Hora, no “ESPECTÁCULO DE SOLIDARIEDADE”, denominado “NOITE CULTURAL”, levado a efeito por este Clube.
Valeu a pena assistir à classe, à categoria e qualidade artística dos membros da “Associação dos Antigos Alunos Orfeonistas da Universidade do Porto” nas mais diversas actuações, que prenderam com agrado a imensa assistência que teve a felicidade de assistir a este espectáculo extraordinário.
O Lionismo é cultura! E na noite de Sábado aconteceu cultura na Senhora da Hora.

Desde a actuação maravilhosa do Coral, interpretando peças do agrado da assistência, aos actos Protocolares, ás peças Entreactos, aos Fados de Coimbra, à Tuna do Orfeão Universitário do Porto, à Orquestra de Tangos, tudo, mas mesmo tudo, foi do superior agrado da assistência que, com a magia intimista de uma momentânea interligação com os actores e músicos, comungou daquela irreverência académica e,perante tal ambiente salutar, nunca regateou os aplausos à medida que os números se iam sucedendo.

Estão de parabéns os membros da “A.A.A.O.U.P”; está de parabéns o seu Digno Presidente, o Senhor Dr. Rui Vaz Osório, que, conjuntamente com a Senhora sua Esposa, Dra. Maria Eduarda Osório, distinguiram o evento com a sua presença.
Igualmente presente esteve o Presidente do Executivo da Junta de Freguesia da Senhora da Hora, Senhor Valentim Campos, que quis, com a sua presença, significar o interesse com que o novo Executivo da Junta vai seguir as actividades dos Lions.
Os Lions da Senhora da Hora agradeceram ainda a presença do seu Clube padrinho – o Lions Clube de Matosinhos - representado pelos CCLL Miguel Teixeira e Zélia Teixeira - os quais, simultaneamente, representaram a Universidade Sénior de Matosinhos.
Na altura dos agradecimentos, os mesmos foram extensivos à Paróquia e ao seu Pároco, Pe. Amaro Gonçalo, pela colaboração generosa e disponibilidade demonstrada ao ceder as instalações para que fosse possível realizar o Espectáculo.

E foi neste clima de Solidariedade, notando-se no olhar de todos os presentes o brilho recompensador de quem tinha estado em “Missão”, que a “NOITE DE SOLIDARIEDADE” terminou.

O Objectivo de mais esta realização lionística foi cumprido.
Agora, toca a arregaçar as mangas e a fazer os Cabazes.
Todos não somos de mais para “SERVIRMOS COM AMOR”, que é o lema desta ano lionístico do Lions Clube da Senhora da Hora